Um cumprimento despretencioso nesses tempos de catástrofe revela um pensamento a espreitar as cordas vocais implorando por um som que o expresse. Do velho - oi tudo bem!? Passamos ao - oi, tudo bem, e na sua casa todos bem!? Uma expressão que se ouve e se repete com imensa naturalidade.
Em tempos idos essas curiosidades sobre seu estado de ânimo e saúde "tudo bem?" eram mais um desses comportamentos repetitivos e regulares que se institucionalizaram. Mas e o acréscimo da preocupação com a casa do interlocutor, ou com a família? Esse é o espírito dos tempos que vivemos.
Alguns antropólogos já mostraram o valor da casa e da geografia imaginária e o quanto o sistema de classificações humanas depende de uma identificação com o espaço em que se vive e o quanto esse espaço imaginário é uma área de conforto e descanso graças à intimidade com este mundo classificado. A pergunta pela casa revela o deslocamento e o desconforto de quem pergunta. Teresópolis não é mais cognoscível, não se permite entender por um sistema de classificações usual há pouco tempo. Ouvir a resposta de que "tudo está bem, no meu bairro não aconteceu nada" ou "perdi tudo, o bairro acabou" mais do que servir à elaboração de uma ciência dos fatos, responde ao anseio imaginário de se reclassificar um espaço outrora cognoscível.
Há alguns dias uma pergunta tem rondado os pensamentos: o que será de Teresópolis depois disso tudo? Ainda não sabemos. É certo que ela servirá aos mesmos propósitos, servindo de área de conforto e descanso, mantendo seus vínculos sociais ativos, com suas instituições todas funcionando como funcionavam (mal), mas o espírito dessas manifestações e sob quais signos seremos capazes e entender a cidade são questões cujas soluções ainda permanecerão na penumbra.
É verdade, pergunta-se a todos os conhecidos sem exceção, até aqueles que sabemos que residem em bairros que nada sofreram, porém, a preocupação, ou até mesmo a curiosidade, prevalecem neste momento. Resta saber agora, por quanto tempo continuaremos ainda questionando, nos preocupando...
ResponderExcluirMuito bom o post. Geografia imaginaria... a casa sempre sera o melhor exemplo
ResponderExcluirDepois de um tempo todos irão esquecer o que houve, apenas vocês de Teresópolis lembrarão.
ResponderExcluirPor isso os problemas no mundo nunca acabam, a preocupação do ser humano é como aquele velho ditado:
"Fogo de palha, acaba rápido."
Claro, salve algumas excessões.
É meu caro...a intenção de manter esses posts sobre o assunto no blog é nunca deixar que se evapore na memória esses ocorridos...e iluminar coisas que de longe, pela mídia oficial não se percebe...
ResponderExcluirO que me deixa puto é o como tem gente ganhando dinheiro, fazendo sensacionalismo com o sofrimento dos habitantes.
ResponderExcluirAquele jornal da globo, apresentado na frente do "canyon" que se abriu no meio do bairro me deu vontade de vomitar!!
Eu nem postei nada sobre o aumento do preço do galão de água, de 5 pra 50 reais em uma dia...a polícia teve que ameaçar de prisão quem fizesse isso....ah sim, há também o roubo de mantimentos doados...qualquer catástrofe é uma oportunidade de negócios, os empreitors tão adorando, uma cidade inteira pra reconstruir!!
ResponderExcluirÉ triste como a alegria e prosperidade de alguns, significa a tristeza de semelhantes.
ResponderExcluir