Os últimas dias são de incognoscibilidade. Há uma série de instituições particulares, filantrópicas, governamentais agindo na área dos acontecimentos ligados às chuvas do dia 12 de janeiro. Essas instituições que aparentemente deveriam sincronizar-se, envolveram-se em uma série de conflitos nos últimos dias.
O exemplo forte deste conflito é a relação entre a Prefeitura e a Cruz vermelha. A primeira, governamental, argumenta que orienta-se pela vontade popular e realiza uma sorte de interesses cujos objetivos são o bem estar e a segurança da sociedade que a mantém e a legitima, tendo em seu controle recursos financeiros e humanos. A segunda, articula-se e organiza-se internacionalmente, sugere retoricamente que sua preocupação é o bem estar do ser humano e o suporte desinteressado em busca do bem estar de todos os indivíduos, apóia-se no trabalho voluntário e nos órgãos públicos.
O que se esconde por baixo desse conflito institucional? Ideologia!
Há uma disputa ideológica intensa entre estas duas. A primeira - em situações como a nossa - é exposta à impopularidade por conta de sua impotência e incompetência. Incompetência de prevenir ou minimizar os efeitos de um fenômeno natural tão antigo quanto o próprio planeta. Impotência porque é desorganizada desde suas raízes, desesperadamente desarticulada e desorganizada, incapaz de reagir adequadamente. Surge assim um tipo de discurso positivo e naturalizante que, ao mesmo tempo, destaca a positividade da ação governamental e atribui às chuvas e fenômenos naturais a causa do evento.
A segunda, especialmente aqui, no anseio de disfarçar os interesses que a movem e o descontrole de suas ações, julga a si mesma como imparcial e independente de qualquer instituição. Eximi-se assim da responsabilidade de organização interna. Em bom português, dá a si mesma a chance de culpar, do que quer que dê errado em suas ações, terceiros. Se a cruz vermelha é ligada à convenção de Genebra e a ONU, é claro que ela é orientada por interesses dessas instituições, mas quais são eles? Não importa, o discurso de imparcialidade neutraliza a questão.
O que se busca é legitimidade. A cruz vermelha precisa da legitimidade da neutralidade para angariar voluntários. Os governantes para manterem-se governantes. Ouvi de alguns que os dois tem o mesmo objetivo, ou seja, socorrer os necessitados. Concordo quanto ao interesse comum, mas discordo do que se chama de necessitados. Cruz vermelha e Estado são os necessitados desses momentos e os dois, finalmente, defendem a si mesmos nessa disputa.
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