As duas categorias que mais me instigam hodiernamente são o mito e a geografia imaginária. Said, mesmo sem ter utilizado mito em qualquer parte de sua obra, ao refletir sobre a questão das relações entre Oriente e Ocidente, esbarra com a ideia de geografia imaginária. Esta é reflexo de um mundo organizado e classificado que se torna familiar aos indivíduos que ocupam determinado espaço. Os objetos, uma vez classificados, compõe um sentido transcendente para aquele grupamento, isto é, tornam-se geograficamente imaginários. O que é possível complementar a essa ideia é que o espaço geográfico imaginário é mítico.
Os mitos sempre são permeados de espaço. Seu sentido relaciona-se ora direta, ora indiretamente com o espaço. Note-se Zeus, deus dos trovões e das cavernas, ou as ninfas que por capricho sopravam levantando poeira e alterando formas rochosas; mesmo Jeová é chamado de deus da montanha em algum momento e é capaz de influenciar no espaço onipotentemente, só para citarmos alguns exemplos simples. É possível sofisticar-se os exemplos e relacionarmos uma concepção temporal ao mar em seu eterno retorno, ou nos aforismas de Heráclito em que o rio lava e transforma, cria e recria o Ser incansavelmente.
As enchentes e deslizamentos alteraram profundamente a geografia física teresopolitana. É relativamente simples reorganizar o espaço com um pouco de razão e ciência quem sabe. Me parece, todavia, hercúleo o trabalho de compreenção do que será a geografia imaginária teresopolitana. O espaço outrora conhecido e familiar cedeu com as chuvas. Os rios seguem outros rumos agora, criam um novo tipo de Ser. A questão "porque o Ser e não antes o nada?", resgatou-nos da monotonia a um custo trágico. Somos novamente intimados a nomear o Ser e se re-conhecer nessa nova configuração espacial, a criarmos nossos novos mitos.
Me lembrei daquele texto "Meu Lugar" do Sartre...
ResponderExcluir