Alguma coisa acontece com quem vive situações como as dos últimos dias. Cria-se uma série de estórias e relatos envolvendo quem conta e os eventos. Estes relatos se propagam intensamente, de tal forma, que se contássemos o número de pessoas que os arautos dizem terem visto falecidas, o resultado seria o triplo do número real de mortes. Todos os voluntários parecem querer ver algo dramático, presenciar algo épico, sentir a catástrofe na pele. Um impulso imediato os move em direção às áreas destruídas atrás da possibilidade de se encontrar com alguém a ser resgatado. É o mito da ajuda. A expressão mais usual é a de que devemos fazer nossa parte, fazer o possível para ajudar.
A extensão, durabilidade e intensidade desses relatos míticos atendem a uma demanda significativa. Uma sociedade constrói a partir desses relatos sua memória. As informações veiculadas pelas mídias, por mais que busquem a dramatização cinematográfica (ou de novela) dos eventos ao entrevistar pessoas em choque, ou insistir em imagens de destruição, não são capazes de formar essa memória trágica que se adquire a partir desses relatos. O máximo que consegue é vender à essa memória surgente uma imagem que lhe dê satisfação objetiva.
O mais interessante desses relatos é a intensidade com que são contados. Não basta uma seleção de ideias e de palavras usuais nesses eventos, tais como, "perderam tudo", "importante é estar vivo" ou a minha preferida "o bairro acabou". Não! Esses relatos são preenchidos por variações sensíveis na voz, revelando uma forte emoção suprimida, o importante é seguir contando. Olhos que se apertam como que contendo lágrimas, mas que também serão reprimidas porque relatar o que se viu é o mais importante.
Toda essa emoção é comprovada pela objetividade do drama vivenciado. Não basta assitir de longe ao resgate de um homem morto. Este homem deve estar abraçado a um menino, automaticamente identificado como seu filho. Seu rosto deve estar voltado ao do filho, um olhar vazio, morto, mas preocupado com aquele momento em que suas vidas findaram. Finalmente, este homem deve ser alguém conhecido, alguém bom, respeitado cuja perda da vida será sentida pela eternidade. Eis o mito da tragédia.
Em geral a mídia hoje em dia, traz as notícias de uma forma bem emotiva, isso cria fortes laços com os telespectadores. É a receita para garantir a audiência e controle.
ResponderExcluirPor isso tem pessoas que dizem que agir com emoções não leva a nada, e sim, ser racional.
O problema é que se a mídia passar os fatos racionalmente, o povo começará a pensar, isso não é bom para aqueles que reside no topo da pirâmide.
Eles agem racionalmente em benéficio apenas deles.
Bom não estou querendo impor que ter emoções não leva a nada, mas, é preciso refletir também.