Há um imensa sondagem sobre o conceito de tragédia e sua manifestação estética. Basta lembrar de Hegel e Nietzsche para se entender a extensão do assunto.
A tragédia enquanto manifestação artística implicava geralmente em um retorno irrecusável de situações para os personagens. Suas vidas seguiam um fluxo eterno de retornos e repetição de ações e consequências. Veja-se Édipo, atraiçoado por uma profecia, foge de seu destino o quanto pode, mas este acaba por encontrá-lo.
A música, por sua vez, além de climatizar o ciclo vital, inaugura ou encerra uma cena, um acontecimento, dramatizando-o e dando à tragédia um aspecto ritualístico.
A lição deste tipo de tragédia seria apresentar e promover a aceitação do inevitável, admitindo-se que os dramas e ações são condenadas por uma força maior que os leva a consequência não previsíveis individualmente, mas de pleno sentido quando visto em totalidade. Esta aceitação da condição de submissão diante da força natural é o espírito da tragédia. Essa naturalização recebe dos ecos sonoros da música um significado psicológico que comunicaria a aceitação e, ao mesmo tempo, torna o ato de aceitar um ritual.
Os heróis trágicos situam-se longe do cognoscível. Pelo contrário, suas vidas são manipuladas por uma força natural que lhes transcende, mas que acaba por se mostrar ao Herói, que finalmente aceita sua situação.
Heis nossa situação: um evento climático somado à uma série de incompetências da esfera governamental, que nos lega um número absurdo de pessoas mortas, um grande de feridos e doentes outro gigante de desabrigados, chamado de Tragédia.
A tragédia compondo os títulos das matérias nos jornais que informam a situação preenchem, de um lado, necessidade ideológica do poder público de naturalizar o evento, dando a este o caráter da inevitabilidade. Ao mesmo tempo, prepara os espíritos dos vitimados para a futura aceitação de sua própria situação fragilizada. Enfim, auxilia da desresponsabilização dos responsáveis, atribuindo a uma força natural ou sobrenatural a causa de eventos como os ocorridos.
Acompanhando as informações acerca da Região Serrana do Rio, nota-se como a grande mídia televisiva sempre se utiliza de algum tipo de efeito sonoro anunciando o ato heróico ou o depoimento da vítima. Ouçam as criações míticas das bocas dos milhares de transeuntes que nada mais tem a fazer a não ser falar do evento, o primeiro é o som que completa o quadro desta tragédia, o segundo é o som do ritual que se faz à chuva, à catástrofe.
Acompanhando as informações acerca da Região Serrana do Rio, nota-se como a grande mídia televisiva sempre se utiliza de algum tipo de efeito sonoro anunciando o ato heróico ou o depoimento da vítima. Ouçam as criações míticas das bocas dos milhares de transeuntes que nada mais tem a fazer a não ser falar do evento, o primeiro é o som que completa o quadro desta tragédia, o segundo é o som do ritual que se faz à chuva, à catástrofe.
A conclusão perigosa advém daí: se é trágico, não haverá culpados, somente um destino que precisa e vai, inevitavelmente, se realizar na forma de catástrofe, então, mesmo quando se aponta a incompetência do poder público em prever tais situações, pode-se sempre apelar para a surpresa e a força natural incontrolável, safando quem quer que seja o responsável pelo caos que se instalou.
Pra mim, o pior de tudo, é tudo isso cair no esquecimento...assim que todo mundo voltar a falar do tacanho Big Brother ou coisas assim... com ou sem culpados, há algumas centenas de desabrigados!
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