terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Os mortos que andam?

O cenário apocalíptico tem me fascinado. A pergunta fundamental é o que acontece à humanidade diante do caos apocalíptico? Ou se a reformularmos pode-se apresentá-la assim: do que a humanidade é capaz no caso do apocalípse?
Aquilo que alguns fãs de zumbis por vezes não compreendem é que a alegoria dos mortos transeuntes é a promessa profética para o nosso próprio apocalípse. Uma multidão reduzida a um comportamento instintivo, procurando sem rumo e sem espectativas nenhum objetivo. Algumas séries e filmes de zumbi são taxativos ao afirmar que os zumbis são uma massa sem consciência.
A inconsciência e a ação humana reduzida à execução dos instintos primários torna a humanidade essa massa. Os conscientes sobreviventes desumanizados, ainda possuidores de consciência, que os distanciam da massa, são a marca de uma nova espécie, de um novo tipo de criatura: o sobrevivente.
Os grunhidos e sons incompreensíveis tornam-se uma sinfonia de morte, revelando o sentido originário do caos, ouvidos e compreendidos por uns poucos sobreviventes. Os sobreviventes são aqueles que não se comportam naturalmente, pois são chamados a criar para si uma consciência nova diante da finitude. A morte dos sobreviventes e sua imediata transformação em zumbi, é a incoporação de sua condição de indivíduo à de membro de uma massa uniforme. Não morrer era des-humano, no apocalípse muda-se essa condição. Lutar contra a morte passa a ser des-humano. Dessa forma os sobreviventes realizam-se plenamente enquanto lutam pela vida, mas distanciam-se de sua condição humana de finitude, ao negar a morte como regra.
O apocalípse e a morte anunciados realizam-se aos poucos. O que chamaríamos de agentes da morte, zumbis, ou agentes de massificação peregrinam a esmo pelas ruas. Ouvimos e identificamos seus sons ideológicos, sem,. no entanto, compreendê-los. Diante de nossa situação des-humanizada, me pergunto por quanto tempo sobreviveremos.

3 comentários:

  1. Muito bom o post. Você disse uma coisa que eu ainda naum tinha pensado que o zumbi seria o humano reduzido a seus instintos primarios. O que faz sentindo a partir do momendo que pensamos no zumbi, como ser poetico para um apocalipse que acontecera quando os humanos perderem a consciencia

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  2. Interessante... Em jogos como o Left 4 dead você tem que se aliar e trabalhar em grupo para sobreviver; mas nunca se pensa na perspectiva "eles eram gente como a gente". No "The Walking Dead" apareceu isso e eu pensei "coisa de bichinha"... kkkkk

    Virou diversão mesmo detonar zumbi.

    Maaaaas, me parece que essa coisa de "fugir da massificação" é uma coisa bem humana, não acha? Sempre tentamos ser especiais de alguma forma, e "ser sobrevivente" parece ser uma forma. Já o zumbi não pode mais se preocupar com isso.

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  3. A idéia que defendi ali é que os sobreviventes tornam-se a excessão. Ser humano, há tempos, tem se confundido com um comportamento ordenado, calculado. Sobreviver não tem nada disso. É puro caos. Acho que a sacação não é somente desumanizar-se, mas redescobrir a humanidade no caos...

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